29.07.2018

França vence Noah Eurosurf Junior 2018

A 12ª edição do Santa Cruz Ocean Spirit 2018 termina este domingo, num dia marcado pela final do Noah Eurosurf Junior 2018, no qual a seleção francesa se sagrou campeã da Europa.

No início do dia, Portugal, Espanha e França eram as favoritas à vitória, com atletas em quase todas as modalidades, estando a seleção nacional na frente com 11 atletas no quadro principal da final.

António Dantas deu logo vantagem à equipa portuguesa, ao vencer a prova de Longboard Sub-18. Mas não foi fácil: o surfista da linha de Cascais esteve a perder durante a maior parte do heat, deixando a equipa lusa com o "coração nas mãos". Tudo indicava que seria o francês Cornelius Accoh - que soube escolher bem as ondas e trabalhar os pés na tábua -, a vencer, quando a poucos minutos do fim, António entrou na onda, fez mais um hang 10 (manobra usada no longboard) e virou o painel a seu favor, terminando a bateria com um total de 13.97. "Foi sofrer até ao fim, mas foi um sofrimento que valeu a pena", começa por referir.

"Lá dentro estava a pensar na minha família, no meu irmão, que está cá presente, nos meus colegas de equipa e a pensar que estava a representar Portugal e que tínhamos que ganhar isto". O surf surgiu aos quatro anos, mas a verdade é que António Dantas nunca gostou muito da modalidade. Quando, com 12 anos, viu o irmão ser campeão nacional, decidiu que também queria entrar no desporto "à séria". Dito e feito. Agora já pode dizer que é campeão europeu de longboard. Cornelius ficou assim com o título de vice-campeão e com 13.70 pontos no total.

O público vibrou de emoção e hoje a praia esteve composta para assistir ao último dia do Noah Eurosurf Junior 2018. No entanto, foi a partir daqui que começou o fado português e o "vive la France".

No Surf Sub-14, foi a vez de Martim Nunes, João Mendonça, Noa Dupouy e Nicolas Paulet tentarem a sorte. Os franceses entraram na água focados, mas Noa Dupouy mostrou mais consistência, embora fosse a primeira vez que estivesse a surfar o mar de Santa Cruz. A sua primeira onda foi logo 8 pontos. Ambos os portugueses ainda tentaram algumas ondas, mas acabaram sempre por cair sem finalizar as manobras. Já os franceses foi só somar pontos. Na sua penúltima onda, Noa junta mais sete pontos à nota anterior e vira campeão europeu de Surf Sub -14, deixando o título de vice para Nicolas. "Adoro este tipo de ondas, pois são muito parecidas com as que temos em França. Surfei como costumo surfar e resultou. Estou super feliz", disse o atleta de 14 anos.

No que toca ao Bodyboard Sub-16, a luta dos títulos foi entre dois portugueses e dois espanhóis. Se bem que parecia que Javier Domingues e Armide Soliveres nem eram da mesma equipa. Entraram para ganhar e esqueceram os outros dois. O primeiro fez um rolo que lhe valeu um 8.50 e o segundo respondeu e recebeu 8 pontos. A partir daqui foi ver quem fazia mais ondas e recebia notas mais altas. Acabou por ser Armide a levar o troféu, com uma pontuação total de 15.60, seguido de Javier, que ficou com 15.43. "A verdade é que me sentia bem preparado e consegui entrar facilmente no mar, apesar da corrente. Lá dentro, o meu principal rival era o Javier e sei que que também era o seu", confessa, frisando que são bons amigos fora de água.

Joel e Pedro ficaram com o terceiro e quarto lugares, respetivamente, e a equipa lusa começou a sentir o "aperto".

Afonso Antunes, Guilherme Ribeiro, Sean Gunning e Thomas Ledee entraram em seguida no Surf Sub-16. Filho de pai australiano e mãe espanhola, Sean cresceu na Cantábria e é por estas cores que compete. Manteve-se sempre na liderança, mantendo a distância dos restantes três. A meio da competição era certo que o título ia para o país vizinho. "O mar estava enorme, mas consegui apanhar as melhores e fazer boas notas. Estamos mais pertos de vencer. Penso que somos os segundos no ranking", afirmou no fim da bateria.

Restava então o lugar para o vice-campeão. Afonso conhece bem estas águas, afinal é surfista local. Andou taco a taco com Thomas, mas este último também soube dar a volta ao resultado, com as suas duas últimas ondas que somadas deram um total de 14.30 pontos, contra os 10.34 de Afonso. Guilherme Ribeiro ainda tentou, mas não foi suficiente para ficar com o segundo lugar, acabando por ficar em terceiro.

Podemos dizer que Nadia Erostarbe e Mafalda Lopes tinham contas por acertar. Em Marrocos, a espanhola estava a vencer quando a portuguesa lhe trocou as voltas e acabou por sair por cima. Tendo isso em mente, Nadia percebeu que Mafalda era uma ameaça e fez o seu jogo. Sem parar quieta na água, foi a surfista que apanhou mais ondas nesta final de Surf Sub-18 Feminino, terminando a prova com 13.93. Mafalda, que mostrou, mais uma vez, ser uma jovem promessa do surf feminino português, ficou em segundo lugar com uma pontuação total de 13.53. "Acho que ainda estou nervosa e muito feliz ao mesmo tempo. Confesso que não surfei muito bem nos outros heats porque vim agora de um campeonato e estava muito cansada. Na final surfei bem e estou muito feliz com o resultado", referiu Nadia, frisando que prefere ondas grandes, como as que estavam hoje em Santa Cruz.

Em seguida, foi a vez de França levar o troféu do Bodyboard Sub-18 com Yon Aimar a marcar pontos e a levar os franceses a ficar sem voz de tanto gritarem o seu nome. O título de vice-campeão ficou em Portugal, com David Vedor a conseguir um score total de 13.37 nesta bateria. O espanhol Carlos Suarez ficou com o terceiro lugar e o português Miguel Ferreira com o quarto lugar.

E quando pensávamos que estava tudo visto, eis que surge Thomas Debierre a surfar uma onda como se fosse a última e a fazer 9 pontos. Os franceses estavam "loucos", claro. Era tudo o que precisavam para se sagrarem campeões europeus. Mas Thomas não celebrou de imediato. Na sua bateria contra Christian Portelli, Yael Pena e Iker Amatriain, Thomas foi o surfista que fez mais ondas, deixando os adversários sem capacidade de resposta. E quando já estava tudo garantido, Thomas, não satisfeito, faz uma onda perfeita e recebe a nota máxima, 10 pontos. O francês não só contribuiu para a vitória da equipa, como fez a nota mais alta de todo o campeonato. "Estava confiante e segui as instruções do meu treinador. Não há melhor forma de acabar o campeonato", afirmou.

Assim, o Noah Eurosurf Junior 2018 terminou com a equipa francesa em primeiro lugar, com 10.496 pontos, a espanhola em segundo, com 10.281 pontos, e a portuguesa em terceiro, com 10.203 pontos.

"Foi um campeonato bem disputado. Portugal esteve à frente todos os dias da prova. Infelizmente chegámos ao último dia e não nos demos tão bem, como se poderia esperar. Houve também alguma parcialidade no julgamento, o que nos prejudicou bastante. Saímos daqui de cabeça erguida e de trabalho bem feito e acreditamos que na próxima seremos campeões de certeza", começou por dizer João Aranha, presidente da Federação Portuguesa de Surf. "A Filipa Broeiro e o António fizeram um campeonato exemplar. Saímos daqui com dois campeões europeus, dois vice-campeões e mais uns quantos no pódio."

O Eurosurf Junior só voltará a realizar-se daqui a dois anos, mas até lá Santa Cruz poderá contar com a prova Eurosurf, no próximo ano. "Terá um formato um pouco diferente em relação aos outros anos, porque o bodyboard saiu destas competições e teremos somente surf e longboard, mas será certamente um campeonato importante e terá uma preparação também olímpica", finaliza.

Uma ótima notícia para Santa Cruz e para o concelho de Torres Vedras que tem vindo a afirmar-se como local de excelência para a prática dos desportos de ondas. "Estas provas significam muito para Santa Cruz. Depois de 22 anos, é a segunda vez que organizam um evento desta natureza na nossa terra e temos agora como objetivo estabelecer uma boa relação com a Federação Europeia de Surf e a Federação Portuguesa para que estes eventos não deixem de existir. Parabéns a todos os que se envolveram desde a primeira hora e tornaram tudo isto possível", comentou Carlos Bernardes, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras.